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Crítica: "Vitória" — uma ficção dolorosamente real

Atualizado: 26 de mar.

Por Vanusa Reis

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"Vitória", protagonizado pela sempre gigante Fernanda Montenegro, é um daqueles filmes que não precisa de pirotecnia para impactar. Sem firulas, a narrativa entrega o essencial: uma atuação densa, sincera e dolorosamente humana, tanto por parte de Montenegro quanto do ator Alan Rocha, que interpreta o jornalista Fábio Gusmão. Eles não atuam para impressionar, mas para contar e isso faz toda a diferença.

 

O longa nos mergulha em uma realidade que, infelizmente, não é apenas cinematográfica. É o cotidiano de milhões de brasileiros, como foi de Joana Zeferino da Paz, a denunciante do tráfico que inspirou o filme. A violência urbana, o tráfico, os tiros que ecoam pelas madrugadas e os corpos abandonados nas calçadas, tudo isso já se normalizou demais. O filme mostra isso com crueza, sem a estética da violência estilizada, mas com o peso do silêncio de quem já se acostumou a sobreviver.

 

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E é aí que entra um dos aspectos mais incômodos (e necessários) da narrativa: a corrupção policial. O filme não apenas mostra a ausência do Estado em áreas dominadas pelo tráfico, mas também a presença distorcida de uma força policial corrompida, que muitas vezes atua como cúmplice do crime, ao invés de combatê-lo. O policial que deveria proteger, negocia. A viatura que deveria garantir segurança, se torna cúmplice do medo.

 

A população está encurralada. De um lado, o domínio do tráfico; do outro, a omissão ou pior, a conivência — das autoridades. É como viver em terra de ninguém, onde o morador já não sabe mais a quem recorrer. A sensação de abandono é constante, e o filme consegue transmitir isso com sutileza, através de olhares, silêncios e ausências. Não há salvador. Não há justiça heroica. Só há resistência e isso, por si só, já é um ato de coragem.

 

"Vitória" é mais do que uma ficção, baseada em fatos reis. É um espelho, por vezes incômodo, daquilo que somos obrigados a ignorar para continuar vivendo. É uma denúncia silenciosa, feita através da arte, de uma ferida aberta na nossa sociedade: o colapso da segurança pública, a falência moral de parte das instituições e a sobrevivência diária daqueles que vivem à margem do olhar do poder.

 

É um filme necessário. Não pelo entretenimento, mas pelo lembrete de que o Brasil real grita por socorro e raramente é ouvido.


FICHA TÉCNICA

13 de março de 2025 nos cinemas | 1h 52min | Policial, Drama

 

 
 
 

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