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O "Som da Liberdade" vem do Céu

 “Já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus.” (Gl 4,7)


O filme Sound of Freendom, em tradução livre “Som da Liberdade”, que estreou nos cinemas brasileiros em 21 de setembro de 2023, revisitou questionamentos profundos em relação às várias esferas humanas e uma delas diz respeito à nossa filiação divina.

 

A dor alheia gera incômodo em você?

O longa é baseado na história real do ex-agente americano Tim Ballard. O ator Jim Caviezel, conhecido por interpretar Jesus no filme “A Paixão de Cristo”, no ano de 2004, retratou Ballard nas telas e através da carga emocional que ele trouxe ao personagem, percebemos rapidamente nos primeiros minutos do longa o “inferno” interior que enfrentou em mais de duas horas de história narrada pela Sétima Arte.

A dor alheia encontrou lugar na vida e no coração de Ballard, e gerou incômodos. Aquele tipo de incômodo que o fez arriscar tudo, emprego, família, reputação e a própria vida por um propósito.

E essa dor é causada pelo tráfico de crianças que acontece, especificamente na América do Sul, montado e esquematizado por uma rede de pessoas que estavam acima de qualquer suspeita enquanto cidadãos.

 

O termo escravizado no longa e na história

Uma das maiores sacadas desse filme, que conta com a direção do mexicano Alejandro Monteverde e produção executiva de Mel Gibson, é a utilização do termo “escravizado”. 

Antes, porém, de explicarmos a importância da utilização desse termo, precisamos entender um pouco mais da história para alcançar a essência e a profunda reflexão que o longa trouxe à sociedade, mas principalmente para a realidade interior e intelectual de cada expectador que já o assistiu ou assistirá.

Pode-se confundir um pouco sobre quem de fato é o personagem central do longa, mas ao término, quando as luzes do cinema se acendem, muitos questionamentos surgirão, principalmente em relação a nossa própria vida e missão.

 

O pequeno Miguel abre os nossos olhos

A sensibilidade do roteiro de Monteverde é tamanha que faz com que sintamos que alguns personagens se encaixam perfeitamente em nossa vida.

No pequeno Miguel Aguilar e em sua irmã Rocio Aguilar, crianças hondurenhas sequestradas por traficantes, concentram-se sentimentos de injustiça, raiva, ira e uma urgência em querer salvá-los.

Assim, que escutamos o diagnóstico da médica que examina Miguel, pouco depois dele ser resgatado, de que há cerca de três ou quatro dias a criança havia sofrido violência sexual, o nosso impulso natural é de querer salvá-lo de todo o mal que há no mundo e que aqueles olhinhos pretos e inocentes não mereciam ter visto ou vivenciado.

A história se segue até o ponto em que Tim Ballard entende que precisa renunciar ao cargo de agente do governo americano se quiser amenizar a dor que o tráfico humano causa em tantas famílias e na sociedade mundial.

Há tanto em jogo. Ao sair de casa na tentativa de resgatar centenas de crianças traficadas, Ballard nos recorda que os mandamentos de Deus se resumem em “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”, porém que nada disso é linear ou fácil de cumprir.

O expectador torce pelo sucesso de Ballard, mas torce ainda mais para que um dia todas aquelas crianças, que foram alvo de negociação do comércio negro da escravidão humana, recuperem-se e voltem a ter brilho no olhar.

Se a missão de Ballard foi ou não bem-sucedida, convidamos os brasileiros a comparecem aos cinemas e descobrirem os pormenores da missão, em que o ex-agente americano escolheu, por livre adesão porque acreditou que nenhum filho de Deus pode ser vendido.

Voltando ao termo escravizado, que bem se aplica à história que o filme “Som da Liberdade” conta, é importante recordar que em dado momento o longa afirma que hoje, no século XXI, existem muitas mais pessoas traficadas que no pior período em que houve escravidão na humanidade.

Os dados apontam que cerca de 50 milhões de pessoas, de filhos de Deus, estão vivendo horrores devido ao tráfico humano, estão escravizados.

 

Por que escravizados e não escravos?

Na história contemporânea o termo “escravo” foi abolido e o filme mostra que o roteirista não pesquisou apenas a vida de Tim Ballard, mas que se conectou com a História para trazer conceitos novos e profundos.

Por séculos usamos o termo “escravo”, principalmente para nos remeter ao povo africano traficado em navios com destino a vários países, inclusive o Brasil, entre os séculos XV e XIX.

Ao afirmar que aquele ser humano era “escravo” dizia-se que aquela pessoa já havia nascido naquela condição e estava destinada a viver assim pelo resto da vida, sem a possibilidade de conquistar a liberdade.

Privada de liberdade total, pertencente a um senhor de escravos e sem autorização para falar, comer ou dormir quando queria ou precisava, tudo (corpo, alma e mente) naquela pessoa pertenciam a um terceiro.

Com tantas mudanças ocorridas na sociedade civil e mundial, o termo “escravizado” ganhou espaço e aboliu a palavra “escravo”.

Quando mencionamos que um povo, grupo ou indivíduo é ou foi escravizado, estamos recordando que aquela pessoa criada por Deus estava ou está em uma condição de escravidão, mas não nasceu e não foi criada para esse fim.

A grande sacada do filme, o “Som da Liberdade” é trazer, além do grande alerta sobre o tráfico infantil, que existe e sempre existiu, a visão de que todas aquelas crianças, objeto do tráfico sexual infantil, podem estar em condição de escravidão, mas não foram criadas para essa finalidade.


Nenhum filho de Deus nasceu para ser escravizado

Aliás, nenhum filho de Deus nasceu para ser escravizado, nem por terceiros, nem por vícios e muito menos por suas próprias vontades hedonistas.

Diante de tudo que o longa nos apresentou, podemos questionar? Quais atitudes nossas estão escravizando a nossa criança interior e a nossa alma?

O filme nos oferece uma mãe dupla, que desperta em nós a urgência em nos posicionar contra o tráfico infantil, a prostituição de menores e a pedofilia, enquanto sociedade, evidência de que precisamos urgentemente criar ou encontrar mecanismos e a coragem necessária para impedir que milhões de criança continuem em situação de escravizadas pelo mundo. Essa é a primeira lição que Ballard nos ensina.

A segunda é sobre ter a capacidade de sair de nós mesmos e pensar como filhos de Deus, criados por amor e amados até o fim, sobre quais escravidões estamos alimentando em nossa vida!?

Entendemos a escolha do título do filme “Som da Liberdade” por meio de duas analogias que acontecem no filme, mas para entender por que meios saímos de nossa escravidão interior, precisamos escutar o “Som da Liberdade que vem do Céu” e mesmo em meio a uma multidão, isso só é possível no silêncio do nosso coração.

 

 Por Vanusa Reis

 

 
 
 

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